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O abismo secundário

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Um dia as formigas vão tomar conta do mundo. Ouvi dizer que o morador da casa ao lado teve o corpo encontrado numa rua de pouco movimento, às tantas horas do dia tal, e ele estava irreconhecível. Incrível como essa informação mexeu com minha consciência, triturou minha sanidade e deformou o organograma do meu imaginário. Eu sou um homem comum mas as ruas desta cidade me transformam, com suas surpresas factuais, numa espécie de fantasma de um sistema binário onde o fluxo da descontinuidade sempre jorra, imprimindo seu ritmo, sua constância, seu movimento, a defesa dos preceitos harmônicos do descontínuo. Parei para acender um cigarro e as pessoas conversavam sobre o cadáver do meu vizinho. Havia muitas palavras escapando aleatórias e aquele falatório todo não fazia sentido para mim. As conversas demonstravam a inquietação dos falantes mas não significavam, não indicavam um contexto, eram soltas ao vento, como caixas vazias armazenando silêncios e errando o ponto que faz alvo para a s